ANTONIO MAURICIO GOMES - Pharmácia Mauricina




Entrevistado por Pe. Claudino Biff  aos 23 de julho de 1987. (Pe. Claudino Biff – Páginas: 89, 90 e 91)

C.B. – Conte um pouco da sua história.

         ANTONIO MAURICIO GOMES – Eu nasci hà 11.06.1894, na cidade de
Timbaúba, estado de Pernambuco, vis a vis estado da Paraíba do Norte. Meus pais, Esaú Gomes e Cósima Maria da Conceição. Tive cinco irmãos. Todos já mortos, no Pernambuco. Eu saí de casa com 13 ou 14 anos, para trabalhar em construções na Paraíba do Norte, em João Pessoa, precisamente. Ajudei a construir a estrada de ferro, que ia da Paraíba ao Pernambuco. Trabalhei dois anos, como todos, dando duro no pesado. Daí fui trabalhar nos esgotos de João Pessoa. Daí assentei praça na Paraíba. Fui soldado do exército brasileiro, de 1912 à 1921. Era a primeira grande guerra contra a Alemanha. Eu fui escalado para ir para a Inglaterra, para trabalhar na aviação, mas não passei no teste, então fiquei. Dei baixa no ano de 1921, sem antes passar nos quartéis de artilharia de Santos, Rio de Janeiro, como ginete de cavalaria. Servi em Ipanema, Sorocaba, São Paulo, daí fui transferido para Florianópolis, no II Grupo de Artilharia de Costa, até que terminasse a guerra em 1919. Casei-me com Santilina Dionísia, natural de Laguna-SC. Na cidade de Valência, prestei exames de prático de farmácia. Isto em 1921. Fui convidado para vir para Orleans-SC. Lá existiam dois farmacêuticos, em 1921. Santos Alberton, outro era José Costa, de cuja farmácia eu era prático. Depois fui a Gravatal,  e na frente da velha igreja, fundei minha primeira farmácia e também primeira de Gravatal, isto em 1922. Depois fui a Braço do Norte, fundei outra farmácia, na esquina da rua Santa Augusta. O Padre era muito amigo meu. Chamado Nicolau Ghesing.

ANTONIO MAURICIO GOMES chega na Rua do Fogo, atual SANGÃO-SC em 1926

Após dois anos de Braço do Norte me transferi para Rua do Fogo. Recebi as tinturas e as químicas do senhor Antonio Medeiros, pai do Aggeu Medeiros. As químicas dei para minha neta Raquel. O livro francês, é um livro de 1700, de Chenoviz. Fui à Rua do Fogo porque era muito maior que Morro da Fumaça. Isto lá por 1926. De Rua do Fogo me transferi para Jaguaruna, que já tinha o título de Villa, outorgado por D. Pedro II. Aristeu Ávilla me convidou para ir para Jaguaruna-SC. Ele era coletor. Permaneci 8 anos na Jaguaruna, que era muito maior que Morro da Fumaça. Daí vim para Morro da Fumaça a convite de Luiz Guglielmi. Foram necessários 6 carros de bois para trazer as coisas. Lembro que seu tio Elias Maccari, Julio Coral, Luiz Guglielmi e outros, me buscaram na Jaguaruna. Conste aí, Santos Frasson, filho de José Frasson.

Em 1934, ANTONIO MAURICIO GOMES chega no Distrito de Morro da Fumaça

         C.B. -  Onde o senhor instalou a sua primeira farmácia?

         A.G. – Aí onde é a atual Prefeitura. A casa era dos Cechinel. Cheguei no dia de São Roque, 16.08.1934. Sou farmacêutico há quase 60 anos. Construí minha casa e a farmácia aqui onde eu moro. O nome da farmácia era em ortografia antiga: Pharmácia Mauricina. Aqui, atendi a milhares de pessoas.
Única foto encontrada com vistas da Pharmácia Farmácia Mauricina na Rua 20 de Maio

C.B. -  O senhor salvou muitas pessoas?

A.G. – Não. Foi Deus quem salvou. Eu só fui instrumento na mão de Deus. Eu era chamado a Treze de Maio, Içara, Urussanga Velha, Jaguaruna, Urussanga Alta, Cocal. Sempre a Cavalo. Eu tinha o meu próprio cavalo. Ou então eles me traziam cavalos de boa montaria.

C.B. -  Senhor Antonio, qual era a doença mais comum naquele tempo?

A.G. – Havia grande anemia. A receita da anemia mais clássica era a anquilostomina de que fala Monteiro Lobato, no seu livrinho Jeca Tatu. Havia muita gripe, muita epatite, e muita mordida de cobra jararaca. Deus e eu a todos salvamos, exceto a um menino, dada a demora de buscar auxílio, mordido por uma cobra.

C.B. -  Quais os médicos da nossa região?

A.G. – Dr. Paulo Carneiro em Laguna. Dr. Luiz Campelli em Urussanga. Em Tubarão, Dr. Asdrúbal, carioca e o famoso Dr. Otto Feurchuette. Eu era amigo particular do Dr. José Balsini, do Hospital São José de Criciúma. Quando eu não dava conta da gravidade de um caso mandava ao Dr. José Balsini.

C.B. -  Qual foi uma das pessoas que o senhor encaminhou ao Dr. José Balsini e foi salva?

A.G. – Foi seu pai, Leandro Bif.

C.B. -  Quando em 16.08.1934, o senhor chegou aqui, quem é que vivia aqui?

A.G. – Meu grande amigo era Pascoal Cechinel. Outro: Gregório Espíndola, Jorge Cechinel, Pedro Gabriel, Pedro Frasson, pai do Auzilio Frasson, Emílio Frasson, Vanteiro Margotti, Luiz Maccari, o velho Tezza. Meu amigo era o fotógrafo Abel Collodel, cunhado do senhor Pedro Frasson, o homem do correio e tocador do sino da igreja de José Guglielmi e muitos colonos.

C.B. -  Quantos filhos o senhor teve?

A.G. – Ao todo dez.

Politicamente o senhor era da UDN do Brigadeiro Eduardo Gomes, quem mais era da UDN?

A.G. – Antonio de Costa, Giacomo Serafim, Mansueto Maccari, seu irmão Antonio Maccari. E quanto me recordo, ninguém da UDN foi representar a Fumaça na Câmara de Urussanga.


O Farmacêutico Antonio Maurício Gomes, foi membro da Comissão de Emancipação do Distrito de Morro da Fumaça em 1962.
Mais detalhes em.. A Comissão de Emancipação do Distrito de Morro da Fumaça

roquesalvan@gmail.com

REFERÊNCIAS

BIFF, Claudino. Morro da Fumaça e Sua Divina e Humana Comédia, 1988.

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